Foi
um militar e político brasileiro,
primeiro presidente do Brasil e
uma das figuras centrais da Proclamação
da República no país.
Após
cursar artilharia na Escola Militar do Rio de Janeiro entre
1843 e 1847, participou de algumas campanhas militares durante o Império, dentre as quais se destacam a Revolução Praieira, o cerco de Montevidéu e a Guerra do Paraguai. Em 1885, tornou-se
vice-presidente da província de São Pedro do Rio Grande
do Sul; no ano seguinte, com a renúncia do então presidente Barão de Lucena, Deodoro torna-se presidente
do Rio Grande. Devido ao seu envolvimento no que ficou conhecido como
a Questão Militar, (embates entre
as forças armadas e o governo civil
imperial), retornou ao Rio de Janeiro. Nomeado para o comando militar da província de Mato Grosso em 1888,
exonerou-se do cargo no ano seguinte, face à nomeação do último gabinete
ministerial do Império, encabeçado pelo Presidente do Conselho de Ministros, Visconde de Ouro Preto. Em meio a
diversas crises que assolavam a monarquia
brasileira, Deodoro liderou o golpe de Estado que depôs o Império
e proclamou a república no país.
Com
a mudança de sistema de governo, Deodoro assumiu o comando do país na qualidade
de chefe do Governo Provisório da República. As primeiras mudanças de seu
governo envolviam a criação do Código Penal
Brasileiro, a reforma do Código
Comercial do Brasil e medidas que oficializavam a separação da Igreja e o Estado, tais como a
instituição do casamento civil e
a laicização de cemitérios. No plano econômico, ocorreu a chamada crise do Encilhamento, caracterizada por uma
grande bolha especulativa e inflação alta, devido às políticas
econômicas de seu Ministro da Fazenda, Rui Barbosa. Em
1891, foi promulgada a primeira constituição republicana do
país e Deodoro foi eleito presidente, em sufrágio indireto. Seu governo constitucional foi marcado por forte tensão
política entre suas tendências centralizadoras e as inclinações federalistas da
sociedade civil e de parte dos militares, que levou à dissolução do Congresso Nacional. Sob a
ameaça da Primeira Revolta da Armada,
Deodoro renunciou à presidência em 23 de novembro de 1891. No ano
seguinte, morreu, no dia 23 de agosto, vítima de uma forte crise de dispneia.
Origem e Formação
Manuel
Deodoro da Fonseca vinha de uma família essencialmente militar. Seu pai
ingressou no Exército em 1806 como praça de Infantaria, subindo, aos poucos, todos os postos
subalternos da carreira. Deodoro tinha duas irmãs e sete
irmãos. Todos os homens eram militares e seis deles lutaram na Guerra do Paraguai. O mais velho, Hermes Ernesto da Fonseca, pai do também
presidente da República, o marechal Hermes da
Fonseca, chegou ao posto de marechal-do-exército e
foi presidente das províncias de Mato Grosso e da Bahia.
Afonso
Arinos da Fonseca, o mais jovem, alferes do
34º batalhão dos Voluntários da Pátria e
o major Eduardo Emiliano da Fonseca
morreram na Batalha de Curupaiti.
O capitão Hipólito Mendes da Fonseca morreu na passagem da ponte de Itororó. O marechal de campo, Severino Martino da
Fonseca e o general Severiano Martins da Fonseca, também
serviram na guerra. Severiano recebeu o título nobiliárquico de barão de Alagoas e foi diretor da Escola Militar de Porto Alegre. Coronel honorário do exército brasileiro,
Pedro Paulino da Fonseca foi governador de Alagoas, logo quando proclamaram a
república, e também senador pelo mesmo
estado. Além disso, foi pai de Orsina da Fonseca, esposa do filho de
um outro irmão seu, também seu sobrinho, o presidente da República marechal
Hermes da Fonseca, compondo, portanto, um casamento entre primos. Pedro
Paulino, que já estava reformado, à época, foi impedido por seus irmãos de
servir como voluntário, sendo assim o único dos oito irmãos a não combater na
Guerra do Paraguai.
Juventude
Ele
era filho de Manuel Mendes da Fonseca, (1785-1859) e Rosa Maria Paulina da
Fonseca, (1802-1873). Seu pai também foi militar, chegando à patente
de tenente-coronel, e pertencia ao Partido Conservador. Em 1845, já
era cadete de primeira classe. Em
1848, participou de sua primeira ação militar, ajudando na repressão da Revolta Praieira, insurreição promovida pelos liberais de Pernambuco.
Casou-se, aos 33 anos, no dia 16 de abril de 1860, com Mariana
Cecília de Sousa Meireles, considerada, pelos biógrafos, mulher educada,
religiosa, modesta e prendada. O casal não teve filhos. Boatos da época diziam
que Deodoro era estéril. Seu
sobrinho, Hermes da Fonseca, que
também chegou à presidência da república, era
tratado por Deodoro como um filho.
Carreira militar
Em
1852, foi promovido a primeiro tenente. Em 24
de dezembro de 1856, recebeu a patente de capitão.
Em dezembro de 1864, participou do cerco a Montevidéu, durante a intervenção
militar brasileira contra o governo de Atanásio Aguirre, no Uruguai. Pouco depois, o Uruguai, sob novo
governo, juntamente com o Brasil e
a Argentina, formariam a Tríplice Aliança, contra a ofensiva do
ditador paraguaio Francisco Solano Lopez.
Em
junho de 1865, foi, com o Exército brasileiro, para
o Paraguai, que havia invadido a
província de Mato Grosso. Deodoro
comandava o segundo Batalhão de Voluntários da Pátria. Seu desempenho no
combate lhe garantiu menção especial na ordem do dia 25 de agosto de 1865. No
ano seguinte, recebeu comenda no grau de cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro e, em 22 de
agosto, a patente de major. Destacou-se
por atos de bravura na Guerra do Paraguai. Em 18 de janeiro de 1868 foi
promovido a tenente-coronel e, em 11 de dezembro do mesmo ano, recebeu a
patente de coronel. Pelo decreto de 14 de outubro de 1874, Deodoro foi
promovido a brigadeiro, patente
equivalente ao atual general-de-brigada. Em 1885, tornou-se, pela segunda vez,
comandante de armas da província do Rio Grande do
Sul, cargo exercido juntamente com o de vice-presidente da
província. Tornar-se-ia, depois, presidente interino dessa mesma
província. Em 30 de agosto de 1887 recebeu a patente de marechal-de-campo.
Foi
chamado de volta ao Rio de Janeiro, por seu envolvimento no confronto das
classes armadas com o governo civil do Império, episódio que ficaria conhecido
como a "Questão Militar", e por ter
permitido que os oficiais da guarnição de Porto Alegre se
manifestassem politicamente, o que era proibido pelo governo imperial. Chegando
ao Rio, Deodoro foi festivamente recebido por seus colegas e pelos alunos
da Escola Militar. Foi, então, eleito
primeiro presidente do Clube Militar, entidade
que ajudara a constituir, e passou a liderar o setor antiescravista do
Exército.
Em
1888, Deodoro foi nomeado para o comando militar do Mato Grosso. Permaneceu no posto somente até
meados de 1889, quando voltou para o Rio de
Janeiro, pois não aceitava, como presidente da província, o
coronel Cunha Matos, o mesmo que, quando capitão, tinha sido o pivô da
detonação da Questão Militar, e com
quem tinha desavenças.
Em
1889, foi criado, pelo Decreto nº 10 222, de 5 de abril de 1889, o Estado-Maior Geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro,
que teve, como primeiro chefe, o marechal Hermes da Fonseca.
A Proclamação da
República
A
despeito da intensa propaganda republicana, a ideia da mudança de regime
político não ecoava no país. Em 1884, foram eleitos, para a Câmara dos Deputados, apenas três
republicanos, entre eles os futuros presidentes da República Prudente de Morais e Campos Sales. Na legislatura seguinte,
apenas um conseguiu ser eleito. Na última eleição parlamentar realizada
no Império do Brasil, a 31 de agosto de
1889, o Partido Republicano só elegeu dois deputados.
Percebendo que não conseguiriam realizar seu projeto político
pelo voto, os republicanos optaram por concretizar suas ideias através de um golpe militar. Para
tanto, procuraram capitalizar o descontentamento crescente das classes armadas
com o governo civil do Império, desde a Questão Militar. Precisavam,
todavia, de um líder de suficiente prestígio na tropa, para levarem a efeito
seus planos.
Foi assim que os republicanos passaram a aproximar-se de Deodoro
(amigo do imperador), procurando seu apoio (sem sua participação direta,
segundo diversas fontes Históricas), para um golpe de força contra o governo
imperial de dom Pedro II o que foi difícil
por ser Deodoro homem de convicções monarquistas, que declarava ser amigo do
imperador Dom Pedro II e lhe dever favores. Dizia, ainda, Deodoro, querer
acompanhar o caixão do velho imperador.
Em 14 de novembro de 1889, os republicanos
fizeram correr o boato, absolutamente
sem fundamento, de que o governo do primeiro-ministro liberal visconde de
Ouro Preto havia expedido ordem de prisão contra o marechal
Deodoro e o líder dos oficiais republicanos, o tenente-coronel Benjamin Constant. Tratava-se de proclamar a República antes que se instalasse o
novo parlamento, recém-eleito, cuja abertura estava marcada para o dia 20 de
novembro.
A falsa notícia de que sua prisão havia sido decretada foi o
argumento decisivo que convenceu Deodoro finalmente a levantar-se contra o
governo imperial. Pela manhã do dia 15 de novembro de 1889, o marechal reuniu
algumas tropas e as pôs em marcha para o Centro da cidade, dirigindo-se ao Campo da Aclamação, hoje chamado Praça da
República. Penetrando no Quartel-General do Exército, Deodoro decretou
a demissão do Ministério Ouro Preto
– providência de pouca valia, visto que os próprios ministros, cientes dos
últimos acontecimentos, já haviam telegrafado ao
imperador, que estava em Petrópolis, pedindo
demissão. Ninguém falava em proclamar a República,
tratava-se apenas de trocar o Ministério, e o próprio Deodoro, para a tropa
formada diante do Quartel-General, ainda gritou um "Viva Sua Majestade,
o Imperador!"
Enquanto
isso, dom Pedro II, tendo descido para o Rio de
Janeiro, em vista da situação, reuniu o Conselho de Estado no Paço Imperial e, depois de ouvi-lo,
decidiu aceitar a demissão pedida pelo visconde de
Ouro Preto e organizar novo Ministério.
Os
republicanos precisavam agir rápido, para aproveitar os acontecimentos e
convencer Deodoro a romper de vez os laços com a monarquia. Valeram-se de outra
notícia, essa verdadeira, pois chegou-se a enviar telegrama oficial nesse
sentido. Quintino Bocaiuva e
o barão de Jaceguai mandaram um
mensageiro a Deodoro, para informar-lhe que o novo primeiro-ministro, escolhido pelo imperador,
seria Gaspar Silveira Martins, correligionário liberal do visconde deposto e político
gaúcho com quem o marechal não se dava, por terem disputado o amor da mesma
mulher na juventude. Assim, Deodoro foi convencido a derrubar o regime.
Pelas
três horas da tarde, reunidos alguns republicanos e vereadores na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, foi lavrada
uma ata, sob os auspícios de José do
Patrocínio, o qual, líder abolicionista e
homem de imprensa, fora um dos mentores da Guarda Negra e
jurara defender a pessoa da subscritora da Lei Áurea e
garantir-lhe o trono (num de seus atos típicos de
súbita mudança de posição), declarando solenemente proclamada a República no
Brasil, que foi levada ao marechal Deodoro.
À noite do dia 15, o imperador encarregou o conselheiro José Antônio Saraiva de presidir o novo ministério. O novo Presidente do
Conselho de Ministros (do Partido Conservador - o mesmo de Deodoro) dirigiu-se
por escrito ao marechal, comunicando-lhe a decisão do imperador, ao que
respondeu Deodoro que já havia concordado em assinar os primeiros atos que
estabeleciam o regime republicano e federativo.
Diante da recusa do imperador em reagir militarmente para
sufocar o golpe, como instavam a princesa Isabel e o seu consorte, o Conde
D'Eu, fez-se a República no Brasil, diante da surpresa generalizada do êxito
da quartelada.
Ministério:
Cargo
|
Nome
|
Período
|
Chefe do Governo Provisório
|
Deodoro da Fonseca
|
1889 – 1891
|
Ministro da Justiça
|
Campos Sales
Henrique Pereira de Lucena |
1889 – 1891
1891 |
Ministro da Marinha
|
Eduardo Wandenkolk
Fortunato Foster Vidal |
1889 – 1891
1891 |
Ministro da Guerra
|
Benjamin Constant Botelho de Magalhães
Floriano Peixoto Antônio Nicolau Falcão da Frota |
1889 – 1890
1890 – 1891 1891 |
Ministro dos Negócios Estrangeiros
|
Quintino Bocaiúva
Justo Leite Chermont |
1889 – 1891
1891 |
Ministro da Fazenda
|
Rui Barbosa
Tristão de Alencar Araripe |
1889 – 1891
1891 |
Ministro do Interior
|
Aristides Lobo
Cesário Alvim Tristão de Alencar Araripe |
1889 – 1890
1890 – 1891 1891 |
Ministro da Agricultura,
Comércio e Obras Públicas |
Demétrio Nunes Ribeiro
Francisco Glicério de Cerqueira Leite Henrique Pereira de Lucena |
1889 – 1890
1890 – 1891 1891 |
Ministro da Instrução Pública,
Correios e Telégrafos |
Benjamin Constant Botelho de Magalhães
|
1890 – 1891
|
Primeiras medidas
Na noite de 15 de novembro de 1889, foi constituído o Governo
Provisório da República recém-proclamada, tendo como chefe o marechal Deodoro, com poderes ditatoriais. O ministério foi composto
de republicanos históricos, como Campos
Sales, Benjamin Constant e Quintino
Bocaiuva, e de liberais da Monarquia que aderiram de primeira hora ao
novo regime, como Rui Barbosa e Floriano Peixoto. Todo o ministério era membro da maçonaria brasileira. Deodoro foi o 13º Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, eleito em 19 de dezembro de 1889 e empossado em 24 de março de
1890.
O
primeiro ato do novo governo foi dirigir uma proclamação ao país, anunciando a
mudança de regime
e procurando justificá-la. Pelo Decreto nº 1 foi adotada, a título provisório,
a República Federativa como
forma de governo da nação brasileira, até que resolvesse a respeito o Assembleia Nacional Constituinte que
seria convocada. As províncias do extinto Império
brasileiro foram transformadas
em Estados federados,
e todas
as províncias, chegaram, logo,
manifestações de adesão ao novo regime, quase sempre da parte dos velhos
partidos monárquicos. Destarte, a República foi estabelecida em todo o país
praticamente sem lutas, salvo no Estado do Maranhão, em que
antigos escravos tentaram esboçar uma reação, correndo às ruas da
capital com a bandeira do Império e dando vivas à Princesa Isabel.
Foram dispersos pelo alferes Antônio Belo, com o saldo de três mortos e alguns
feridos. Os três negros, de que a História não guardou os nomes, foram os únicos
mortos da Proclamação da República no Brasil.
Em 16 de novembro, Deodoro mandou uma mensagem ao imperador
destronado, intimando-o a deixar o país juntamente com a família imperial
brasileira, dentro de 24 horas, e oferecendo-lhe a quantia de 5 mil contos
de réis para seu estabelecimento no exterior. Dom Pedro II de
Bragança recusou a oferta, e partiu na madrugada de 17 de novembro
para Portugal, pedindo somente um travesseiro com
terras do Brasil, para repousar a cabeça quando morresse.
Na manhã do dia 19 de novembro, o marechal recebia em sua casa
alguns republicanos, liderados por Lopes Trovão, os
quais iam submeter, já como fato consumado, à sua apreciação, o projeto da
nova bandeira do Brasil. Deodoro, porém, desejava
manter a antiga Bandeira Imperial, dela retirando apenas a coroa, e
considerou a bandeira que lhe fora apresentada por Lopes Trovão como um
arremedo grosseiro da bandeira dos Estados Unidos. Os republicanos
insistiram que só restava a Deodoro oficializar a bandeira por eles apresentada, pois a mesma já tremulava em alto-mar, no mastro do Alagoas, navio que conduzia o
imperador deportado ao exílio. Irritado,
o marechal deu um soco na mesa, exclamando: Senhores, mudamos o regime,
não a Pátria! Nossa bandeira é reconhecidamente bela e não vamos mudá-la de
maneira nenhuma!
Os republicanos ficaram sem resposta e a sua bandeira foi,
posteriormente, para o Museu da Marinha, ficando conhecida como a
"bandeira provisória da República", embora nunca tenha sido
oficializada. Diante da decisão inflexível de Deodoro, foram mantidos, na
bandeira nacional, o losango amarelo no retângulo verde, da antiga bandeira do
Império, substituindo-se as armas da monarquia por uma esfera
celeste, tendo, ao centro, o Cruzeiro do Sul,
e cortada por uma faixa branca, com o mote Ordem e Progresso. A
bandeira foi desenhada por Teixeira
Mendes, presidente do Apostolado
Positivista do Brasil, com o auxílio
de Miguel Lemos e do professor de astronomia Manuel Pereira Reis.
Na tarde daquele 19 de novembro, o Chefe do Governo Provisório
baixou o Decreto nº 4, oficializando a bandeira nacional. A exposição de
motivos do Decreto considerava que as cores verde e amarelo, "independentemente
da forma de governo, simbolizam a perpetuidade e integridade da Pátria entre as
outras nações".
O reconhecimento internacional
Como não havia ninguém para anistiar, o
governo republicano resolveu decretar a grande naturalização, em 14
de dezembro de 1889, pela qual passariam a ser brasileiros todos os
estrangeiros residentes no país que não manifestassem, no prazo de seis meses,
o propósito de conservar a respectiva nacionalidade.
Em 18 de dezembro de 1889, houve um motim no
2º Regimento de Artilharia Montada. Era um sintoma da indisciplina militar que
se seguiu ao golpe que proclamou a república. Embora não se tenha demonstrado
qualquer relação do motim com elementos monarquistas, o Governo acusou-os de
maquinarem o levante, decretando o banimento do Visconde de
Ouro Preto, de seu irmão Carlos Afonso
de Assis Figueiredo e de Gaspar da
Silveira Martins.
Também a imprensa foi acusada de insuflar perturbações contra o
regime. Assim, por um decreto de 23 de dezembro, resolveu-se instituir a censura e suprimir
a liberdade de imprensa, criando uma junta, composta só de militares, incumbida
de julgar sumariamente os que fossem acusados de abusos no exercício do
jornalismo. Historiadores afirmam que o Governo Provisório republicano foi a
primeira ditadura militar do Brasil.
Em 7 de janeiro de 1890, foi decretada a separação entre a Igreja e
o Estado. Por um decreto de Deodoro, o Brasil deixou de
ser um país oficialmente católico, apesar de o catolicismo ser
professado pela quase totalidade do povo brasileiro, na época. Foi, também,
extinto, o padroado, ou seja, a intervenção do Estado nos assuntos da Igreja.
Em 15 de janeiro de 1890, Deodoro foi aclamado, pelas tropas, generalíssimo de
Terra e Mar, tornando-se, assim, o único oficial-general de seis estrelas no
Brasil. Por decreto de 25 de maio, todos os ministros civis receberam a patente
de general-de-brigada.
Em 23 de janeiro do mesmo ano, foi institucionalizado o casamento civil,
ficando, sem efeitos jurídicos, o matrimônio religioso. Também
foi instituído o registro civil, proibido o ensino de religião nas escolas públicas e secularizados os cemitérios.
Por iniciativa do Ministro da Guerra, Benjamin Constant, foi reformado o
ensino militar, de modo a receber nítida influência da doutrina positivista.
Entrando Benjamin em grave divergência com Deodoro, foi transferido para a
recém-criada pasta da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, o que
significou, de fato, a sua morte política. Para substituí-lo no Ministério da Guerra, foi nomeado o
marechal Floriano Peixoto.
Em 11 de outubro de 1890, foi promulgado o Código Penal dos
Estados Unidos do Brasil, que extinguia a pena de morte, em tempo de paz, no Brasil.
Duas correntes republicanas se chocavam dentro do próprio
Governo Provisório: a corrente liberal-democrática, que visava a uma República Federativa e Presidencial, com separação de
poderes, nos moldes estadunidenses; e
a corrente positivista, que defendia uma ditadura republicana,
segundo os princípios do filósofo Auguste Comte.
Venceu a corrente liberal-democrática, sustentada por Campos Sales, Rui Barbosa e Prudente de Morais.
Em 17 de janeiro de 1891, houve a última reunião ministerial do
Governo Provisório. Nela, tratou-se de uma concessão de garantia de juros para
as obras do porto de Torres,
no Rio Grande do Sul, concessão que
Deodoro prometera a um amigo pessoal, Rui Barbosa, o Ministro da Fazenda, que
não pôde comparecer à reunião, mandou seu voto por escrito, absolutamente
contrário, tanto a está como a outras garantias de juros. Os ministros
presentes foram todos do mesmo parecer. Deodoro permaneceu irredutível e, quatro
dias depois, a 21 de janeiro, aceitava a demissão coletiva do ministério,
nomeando, para substituir os ministros demissionários, antigos políticos do
regime monárquico, chefiados pelo Barão de
Lucena, amigo íntimo de Deodoro.
A crise do Encilhamento
Em 17 de janeiro de 1890, o ministro da
Fazenda, Rui Barbosa, intentando deslocar o eixo da economia
brasileira da agricultura para a
indústria, deu início a uma reforma
monetária e bancária, baseada
nos melhores livros estrangeiros. A reforma consistia em autorizar os bancos a emitir papel-moeda sem lastro em ouro e prata. O sistema de bancos emissores e as facilidades
concedidas para a organização de empresas provocaram inflação e uma desastrosa especulação financeira, com a crise da bolsa e a
ruína de numerosos investidores. A crise ficou conhecida como o "encilhamento".
Nomeações para o Supremo Tribunal Federal
O marechal Deodoro da Fonseca nomeou quinze ministros para
o Supremo Tribunal Federal, durante
o Governo Provisório:
1.
João Evangelista de Negreiros Saião Lobato, visconde de Sabará -
1890
2.
João José de Andrade Pinto - 1890
3.
Tristão de Alencar Araripe - 1890
4.
Olegário Herculano d'Aquino e Castro - 1890
5.
João Antônio de Araújo Freitas Henriques - 1890
6.
Joaquim Francisco de Faria - 1890
7.
Inácio José de Mendonça Uchoa - 1890
8.
Luís Correia de Queirós Barros - 1890
9.
Ovídio Fernandes Trigo de Loureiro - 1890
10.
Joaquim da Costa Barradas - 1890
11.
José Júlio de Albuquerque Barros, barão de Sobral -
1890
12.
Henrique Pereira de Lucena, barão de Lucena -
1890
13.
Joaquim de Toledo Piza e Almeida - 1890
14.
Luís Antônio Pereira Franco, barão de Pereira
Franco - 1890
O Congresso Nacional Constituinte de 1890
Em 3 de dezembro de 1889, o Governo Provisório nomeou uma
Comissão especial para elaborar o projeto de Constituição que seria
apresentado ao Congresso Constituinte da República. Compunham-na Joaquim Saldanha Marinho, signatário do Manifesto Republicano de 1870, que foi
escolhido presidente da Comissão; os republicanos históricos Américo Brasiliense, Francisco Rangel Pestana e os juristas Antônio Luís dos Santos Werneck e José
Antônio Pedreira de Magalhães Castro. Iniciados os trabalhos, três foram
os anteprojetos que seus membros elaboraram, os quais foram
reduzidos a um só, inspirado nas constituições dos Estados Unidos e da
Argentina. Foi entregue, em 30 de maio de 1890, ao Governo, que, de 10 a 18 de
junho, realizou minuciosa revisão, efetuada em especial por Rui Barbosa,
melhorando sua redação e modificando sua estrutura. Em 22 de junho de 1890, era
aprovado o projeto dito "do Governo Provisório".
O Congresso Constituinte foi convocado por decreto de 21 de
dezembro de 1889, para reunir-se no dia 15 de novembro de 1890. No dia 15 de
setembro, realizaram-se as eleições em todos os estados brasileiros.
O Congresso Nacional Constituinte instalou-se, com toda a
solenidade, no dia 15 de novembro de 1890, no Paço da Boa Vista, no Rio de Janeiro.
O Congresso compunha-se principalmente de pessoal novo na política brasileira:
republicanos históricos ou de última hora, muitos militares e alguns
remanescentes dos partidos da monarquia, quase sempre discretos ou adesistas
entusiastas. Depois de eleger a sua Mesa (sendo eleito presidente do Senado e
do Congresso o republicano histórico Prudente de Morais), o primeiro ato do
Congresso foi reconhecer os poderes do Governo Provisório, e prorrogá-los até
que se promulgasse a nova Constituição.
Houve um acordo geral para que fosse imediatamente votado e
aprovado o projeto do Governo. Não se fizeram, pois, alterações significativas,
e depois de pouco mais de três meses, em 24 de fevereiro de 1891, foi
solenemente promulgada a Constituição republicana.
O Governo
Constitucional
Eleição de 1891
Em 20 de janeiro de 1891, todo o ministério de Deodoro havia se
demitido, incluindo Floriano Peixoto, que substituía Benjamin Constant no
Ministério da Guerra.
De acordo com uma disposição transitória da Constituição de 1891, o presidente e o vice-presidente do primeiro período republicano deveriam ser excepcionalmente eleitos
pelo Congresso Constituinte.
Deodoro da Fonseca apresentou-se como candidato a Presidente,
tendo, como candidato a vice, na mesma chapa, o almirante Eduardo Wandenkolk.
Presidente e vice seriam eleitos separadamente. Como já havia forte oposição a
Deodoro, esta articulou a candidatura de Prudente de Morais, o presidente do
Congresso, tendo o marechal Floriano Peixoto como candidato a vice. Floriano,
além de candidatar-se a vice-presidente, na chapa de Prudente de Morais,
apresentou, também, candidatura própria à Presidência.
Apurada a votação, em 25 de fevereiro de 1891, foi obtido o
seguinte resultado na eleição para presidente: Deodoro da Fonseca - eleito com
129 votos; Prudente de Morais - 97 votos; Floriano Peixoto - 3 votos; Joaquim Saldanha
Marinho -
2 votos; José Higino Duarte Pereira - 1 voto; cédulas em branco - 2. Para
vice-presidente foi eleito o candidato da oposição, Marechal Floriano Peixoto,
com 153 votos, contra 57 recebidos pelo Almirante Wandenkolk.
A vitória de Deodoro explica-se pelo temor de que o velho
marechal desse um novo golpe militar,
fechando o Congresso e restaurando a monarquia. Mesmo
os líderes da oposição haviam resolvido que, numa
eventual vitória de Prudente de Morais, o Congresso lhe daria imediatamente
posse do cargo, instalando-se sem demora o governo no próprio edifício do
Parlamento, onde esperariam os acontecimentos, convocando para as imediações do
prédio as forças militares com cuja lealdade podiam contar.
Terminava, assim, o Governo Provisório iniciava-se o primeiro
governo constitucional republicano.
Cargo: Presidente da República
Nome: Deodoro da Fonseca
Vice-presidente:
Floriano Peixoto
Ministros da Justiça:
Henrique Pereira de Lucena
Antônio Luís
Afonso de Carvalho
Ministro da Marinha:
Fortunato
Foster Vidal
Ministro da Guerra:
Antônio
Nicolau Falcão da Frota
Ministro das Relações Exteriores:
Justo Leite
Chermont
Ministro da Fazenda:
Tristão de
Alencar Araripe Henrique Pereira de Lucena
Ministro do Interior:
Tristão de
Alencar Araripe
Ministros da Agricultura Comércio e Obras Públicas:
Henrique Pereira de Lucena
Henrique Pereira de Lucena
João Barbalho
Uchôa Cavalcanti
A fase constitucional do governo de Deodoro da Fonseca foi de
fevereiro a 3 de novembro de 1891, quando Deodoro deu um golpe de estado.
Havia, naquele momento histórico, um conflito entre os militares e
os políticos civis. Os militares queriam se manter na política e eram
favoráveis a uma centralização absoluta e a concentração do poder político,
enquanto os civis desejavam a volta dos militares aos quartéis e lutavam por um
governo descentralizado e federalista.
Durante sua estadia na presidência, Deodoro foi nomeado Grão-Mestre do Grande Oriente da maçonaria do
Brasil.
Os republicanos de São Paulo apoiavam Floriano Peixoto, apesar das tendências centralizadoras
deste. Devido ao apoio de São Paulo, os militares ficaram divididos, e isso
veio mais tarde a provocar a queda de Deodoro.
O fechamento do Congresso e a ditadura de Deodoro
Eleito pelo Congresso Nacional (indiretamente), Deodoro iniciou
seu mandato sob forte tensão política.
Tinha a oposição do Congresso e da população devido à crise econômica.
Tal ato gerou violenta reação, fazendo com que, entre
agosto e novembro de 1891, o Congresso tentasse aprovar a "Lei de
Responsabilidades", que reduzia os poderes do presidente.
Deodoro contra-atacou a decisão do Congresso e, em 3 de novembro
de 1891, decretou a dissolução do Congresso, lançando um "Manifesto à
Nação" para explicar as razões do seu ato. Enquanto isso, tropas militares
cercaram os prédios do legislativo e prenderam líderes oposicionistas e a
imprensa do Distrito Federal foi posta sob
censura total, decretando, assim, o estado de
sítio no país. Este fato entrou
para a história como o Golpe de Três
de Novembro e foi o último feito
de Deodoro em sua carreira política, pois, alguns dias depois, renunciaria ao
mandato de presidente.
A primeira Revolta da Armada
A primeira Revolta da Armada ocorreu no dia 23
de novembro de 1891, quando o almirante Custódio de
Melo, acionado por Floriano Peixoto, a bordo do Encouraçado Riachuelo, ameaçou bombardear o Rio de
Janeiro, caso Deodoro não
renunciasse. O marechal Deodoro, então, cedeu às pressões e renunciou ao cargo
de presidente da República, entregando o poder ao vice-presidente, Floriano Peixoto.
O restabelecimento do Congresso
Ao assumir, em 23 de novembro de 1891, Floriano Peixoto anulou o decreto de
dissolução do Congresso e suspendeu o estado de sítio. Entre novembro de 1891
de março de 1892, afastou os governadores que haviam apoiado o golpe de
Deodoro, substituindo-os por aliados.
Depois da
Presidência
Manuel Deodoro da Fonseca faleceu no Rio de Janeiro, em
agosto de 1892, com 65 anos de idade. Pediu para ser enterrado em trajes civis,
no que não foi atendido. Seu enterro teve toda a pompa e honras militares. O
marechal que proclamou a república no Brasil, fato histórico este que é,
atualmente, feriado nacional, era acometido de
fortes crises de dispneia, popularmente conhecida
como "dificuldade de respiração" ou "falta de ar", o que
impedia o primeiro presidente do Brasil de dormir.
Foi enterrado num jazigo familiar no Cemitério do Caju, mas
teve seus restos exumados e transferidos para
um monumento na Praça Paris, no Rio de Janeiro, em 1937.
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