Nas histórias que lemos sobre os primórdios do Brasil,
vemos que nossos historiadores, embora todos muito capacitados, nos deixam
lacunas de tempo, que muitas vezes, sentimos dificuldade de colocar os acontecimentos
numa ordem cronológica, para que essa nossa superposição no tempo e no espaço,
nos facilite o entendimento, passo a passo de cada acontecimento.
Neste relato, pesquisamos, no que há disponibilizado na
internet, sobre os fatos do episódio em
que o Brasil se tornou Reino Unido a Portugal e Algarves, os sequenciamos, por
datas de seus acontecimentos, para melhor entendermos esse fato histórico que
foi a mola propulsora da, posterior, independência de nosso Brasil.
Do ano de 1815, até 1822, o Brasil passou a ter o título
de Reino Unido a Portugal e Algarves, (Algarves é uma região,
sub-região e província tradicional de Portugal e o terceiro destino turístico
mais rico da Europa). Essa mudança deu-se por ordem do então Príncipe-regente de Portugal
e Algarves, Dom João Maria de Bragança, para que o mesmo
pudesse, após a morte de sua mãe, Dona Maria I, rainha de Portugal e Algarves,
vir a ser rei dos dois países, já que ele era Príncipe Regente do Brasil e de
Portugal, mas, após a morte de sua mãe, ele seria rei de Portugal e
Algarves, não servindo seu título de monarca também para o Brasil, por não
existir uma união oficial entre os dois países, e sim, uma subordinação do
Brasil a Portugal, por ser Colônia do mesmo. Assim, em 16 de dezembro de 1815,
o Brasil recebe, oficialmente, o título de Reino Unido a Portugal e Algarves, (essa carta de lei foi
publicada na Gazeta do Rio de Janeiro em 10 de janeiro de 1816,
oficializando o ato), e
Dona Maria I, (Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de
Bragança),
passa a ser a Rainha do Reino Unido a Portugal e Algarves, de 16 de dezembro de 1815 a
20 de março de 1816, data de sua morte e data em que Dom João Maria
José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de Bragança, seu herdeiro, assume,
(embora não seja logo consagrado), o reinado do Reino Unido a Portugal e
Algarves, como Dom João VI, ou seja, passa a ser, oficial e
simultaneamente, rei do Brasil e rei de Portugal
Dona Maria Francisca Isabel
Josefa Antônia Gertrudes Rita Joana de Bragança, foi, em 16 de dezembro de 1815, o
primeiro monarca a assumir o trono do Reino
Unido a Portugal e Algarves. Nascida em Lisboa, em 17
de dezembro de 1834, Dona Maria I, (assim como já era intitulada), foi monarca do Reino Unido por apenas três
meses, por ter falecido em 20 de março de 1816, aos 82 anos, no Rio de Janeiro,
emblemando a estatística de ser o único monarca português a falecer com mais de
80 anos.
Pela ordem das sucessões do reinado de Portugal
e Algarves, D. João emplaca o sexto rei de sobrenome "João",
porém, o primeiro para o Reino Unido a Portugal e Algarves. No entanto,
como sua mãe foi consagrada rainha do Reino Unido a Portugal e Algarves, com
título de D. Maria I, o mesmo título que já ostentava quando rainha do
reinado anterior, o seu filho, primeiro na linha de sucessão, também
herdou a continuação dessa ordem, e Dom João passou a governar, como rei, por aclamação, com o
título de Dom João VI, a partir do dia 20 de março de 1816, sendo consagrado somente em 6 de fevereiro de 1818, com grandes
festividades, porque em 1816 muitos problemas no Reino Unido impossibilitavam
tais festividades.
Como os demais reinados, o Reino Unido a Portugal e
Algarves, era muito tumultuado, ora
pelos conflitos da própria corte portuguesa, ora pelos conflitos europeus, ora
pelos problemas brasileiros, ora pelos problemas do próprio rei, tanto por manter um casamento
de aparência com Carlota
Joaquina, sua mulher de direito, mas, na realidade, sua ferrenha inimiga, que
só permanecia ao seu lado para tomar-lhe a Coroa, como também, pela sua pública e notória incompetência, indeterminação e alta
insegurança no trato dos problemas de sua gestão, pelo motivo de não
ter sido treinado para suceder a Coroa,
uma vez que não era o primeiro filho na linha de sucessão, e sim, o seu irmão,
o príncipe D. José Francisco Xavier de
Paula Domingos António Agostinho Anastácio de Bragança, nascido em 21 de
agosto de 1761, (casou, em 21 de Fevereiro de 1777, aos 15 anos, com sua tia materna mais nova, a Infanta Maria Francisca Benedita,
(1746-1829), quinze anos mais velha que ele. Uma mulher atraente, mas não houve
descendência deste casamento, apenas dois abortos espontâneos), e falecido em
11 de setembro de 1788, aos 27 anos,
vítima de varíola, dois anos depois que Dona Maria I, em 1786, ascendeu ao
trono Lusitano, tonando-se Dom João, (também casado, mas ainda sem herdeiros), o primeiro na
linha sucessória.
Quatro anos depois de assumir a Coroa,
Dona Maria I, perturbada pelas perdas próximas do filho e do marido, vinha
apresentando sinais de desequilíbrio mental, e, em 10 de
fevereiro de 1792, um documento assinado por dezessete médicos, declara Dona
Maria I, de apenas 58 anos, incapaz de permanecer às rédeas do poder. Todavia, Dom João rejeita a
ideia de substituí-la como Príncipe Regente, o que
oportunizou a ingerência de influentes da corte nas decisões de governo e até
mesmo surgia rumores, (provavelmente articulados pela sua própria esposa), de que D. João também seria incapaz de reinar,
por apresentar os mesmos sintomas da insanidade mental da mãe. Mas, sete anos depois de Dona Maria I ter sido julgada incapaz, o príncipe
Dom João, (provavelmente alertado do interesse de sua esposa em assumir o
reino), resolveu, em 1799, assumir a Coroa como Príncipe Regente, embora, no
trono, se revelasse tímido, distante, sem saber se fazer impor, muito
despreparado e sem habilidade em lidar
com os assuntos estratégicos do reino, principalmente no trato com as nações
mais poderosas, como Espanha, França e Inglaterra.
Apesar do temperamento forte e das péssimas qualidades de
caráter de Carlota Joaquina, o príncipe Dom João formou com ela uma prole de
nove filhos, sendo: Dona
Maria Teresa, em
1793; Francisco Antônio,1795, (o 1º na linha sucessória, mas faleceu aos seis anos,
e o primeiro da linha de sucessão passou para Pedro de Alcântara, ); Maria
Isabel de Bragança, 1797; Pedro de Alcântara, 1798, (que viria a ser Dom Pedro
I do Brasil e, posteriormente, Dom Pedro IV de Portugal); Maria Francisca de
Assis Bragança, 1800; Isabel Maria de Bragança, 1801; Miguel, 1802, (que viria
a ser Dom Miguel I de Portugal); Maria da Assunção de Bragança, 1805 e Ana de
Jesus Maria de Bragança, 1806.
Após o
nascimento de Ana de Jesus, o casal Dom João e Carlota Joaquina se separam,
após mais uma trama de Carlota Joaquina, em 1805, no sentido da formação de um
partido que visava a derrubada do Príncipe da Regência. Essa trama foi
descoberta pelo Conde de Vila Verde, que queria processá-la e prende-la, só não
o fazendo por intervenção do próprio Dom João, que preferiu se separar dela, de
fato, e ir morar no Palácio de Mafra,
(uma obra de enormes dimensões, que consegue num só edifício de grande
escala, reunir uma igreja, um convento e um palácio), enquanto Carlota Joaquina
permaneceu no Palácio de Queluz, (residência oficial do Príncipe Regente da
Coroa Portuguesa).
Sete anos após a permanência de Dom João como Príncipe
Regente de Portugal, Napoleão Bonaparte, Imperador da França, com o objetivo de quebrar a resistência da
Inglaterra, tentou sufocá-la, economicamente, proibindo os países europeus de
comercializarem com os ingleses, ao decretar, em 1806, o Bloqueio Continental,
exigindo que Portugal não só rompesse, economicamente, com a Inglaterra,
fechando seus portos, como também
rompesse, politicamente, expulsando o embaixador inglês. Mas a Inglaterra tinha
fortes laços comerciais com Portugal, por isso, os ingleses pressionaram os
portugueses a assinarem uma convenção secreta assegurando ajuda da Inglaterra a
Portugal na transferência da sede da monarquia lusitana para o Brasil, assim, o
câmbio comercial não seria interrompido. Em contrapartida, os portugueses
deveriam tomar as seguintes medidas em benefício da Inglaterra: a entrega da
esquadra portuguesa; a entrega da Ilha da Madeira; a concessão de um porto
livre em território colonial brasileiro; e a assinatura de inúmeros tratados de
comércio exclusivo com os ingleses.
Em 1807, a França e Espanha
assinaram o tratado de Fontainebleau, que formalizava a decisão de ambas as
nações de invadirem Portugal e dividirem entre si suas colônias.
Diante desse acontecimento, a Coroa portuguesa viu sua transferência para o Brasil como a única salvação da dinastia de Bragança, decidindo, assim, aceitar o acordo proposto pela Inglaterra e rumar para o Brasil.
Diante desse acontecimento, a Coroa portuguesa viu sua transferência para o Brasil como a única salvação da dinastia de Bragança, decidindo, assim, aceitar o acordo proposto pela Inglaterra e rumar para o Brasil.
A partida da Corte portuguesa
deu-se no momento em que tropas francesas, comandadas pelo general Jean-Andoche
Junot
iniciaram a invasão do reino, mas chegou às portas da capital somente em
30 de novembro de 1807.
Os súditos portugueses
presenciaram, estupefatos, a fuga em
massa dos nobres do reino, porque de nada sabiam a respeito dessa
transferência, tendo sido pegos, totalmente de surpresa, na manhã de 29 de
novembro de 1807, quando as embarcações já se encontravam embarcando a família real, todos os ministros, os
integrantes dos tribunais superiores de Justiça, os deputados e senadores,
alguns dos maiores líderes empresariais e a nobreza portuguesa, partindo do
estuário do Tejo, (hoje, Porto de Lisboa), num total de mais de quinze mil
pessoas, protegidas por uma esquadra inglesa. A fuga teve de ser
realizada às pressas, debaixo de chuvas que deixaram as ruas em lamaçal, causando enorme tumulto em Lisboa, ante uma
população atônita e revoltada que não podia acreditar que seu príncipe a
abandonava. Na confusão foram esquecidas no cais inúmeras outras malas e
pertences, como caixotes com toda a prataria das igrejas, (que foi confiscada e
fundida pelos franceses), e um precioso acervo de sessenta mil volumes da
Biblioteca Real, (que foi salvo e, mais tarde, enviado ao Brasil).
No relato de José Acúrsio das Neves,
a partida causou profunda comoção no príncipe regente:
"Queria falar e não podia; queria
mover-se e, convulso, não acertava a dar um passo; caminhava sobre um abismo, e
apresentava-se à sua imaginação um futuro tenebroso e tão incerto como o oceano
a que ia entregar-se. Pátria, capital, reino, vassalos, tudo ia abandonar
repentinamente, com poucas esperanças de voltar a vê-los, e tudo eram espinhos
que lhe atravessavam o coração".
Para
explicar-se ao povo, D. João mandara afixar cartazes pelas ruas afirmando que a
partida fora inevitável, a despeito de todos os esforços feitos para assegurar
a integridade e a paz do reino; recomendando calma a todos, ordenou que não
resistissem aos invasores para que não se derramasse sangue em vão.
Os portugueses desembarcaram
em Salvador em meio a muita comemoração em 23 de janeiro de 1808. Passaram o
primeiro mês de sua estadia no país descansando, aproveitando as festas e
tomando algumas decisões que já começariam a transformar o Brasil em
definitivo. A primeira delas foi lançada logo cinco dias após a chegada da
corte, quando D. João redigiu a carta regia de abertura dos portos ao comércio
de todas as nações amigas. Esse ato foi um verdadeiro presente para os aliados
que auxiliaram na fuga para a colônia, já que, desse modo era possível driblar
o Bloqueio Continental sem maiores problemas.
Em 7 de Março do mesmo ano eles enfim chegaram a cidade do Rio de Janeiro, capital do Rio de Janeiro, que seria nomeada a sede oficial da Coroa Portuguesa no Brasil.
Em 7 de Março do mesmo ano eles enfim chegaram a cidade do Rio de Janeiro, capital do Rio de Janeiro, que seria nomeada a sede oficial da Coroa Portuguesa no Brasil.
Quando a corte de Dom João se instalou no Rio de
Janeiro, muitos moradores foram despejados de suas casas, por ordem do rei,
para liberá-las para os funcionários da corte.
Esse fato que gerou revolta na população da capital brasileira neste primeiro momento e escarnio ao indicativo "PR", (príncipe regente), fixado no imóvel escolhido, que passou a ser chamado de "ponha-se na rua" ou "Propriedade Roubada".
Esse fato que gerou revolta na população da capital brasileira neste primeiro momento e escarnio ao indicativo "PR", (príncipe regente), fixado no imóvel escolhido, que passou a ser chamado de "ponha-se na rua" ou "Propriedade Roubada".
De simples cidade colonial, o Rio
passou à sede da monarquia lusitana. O
Paço Imperial tornou-se a residência oficial dos nobres. Neste período que a Corte Portuguesa ficou no Brasil, foram criadas diversas
instituições culturais e educacionais, como a Biblioteca Nacional, o Jardim
Botânico, o Real Gabinete Português de Leitura, o Teatro São João, (atual
Teatro João Caetano), a Imprensa Nacional e o Museu Nacional. Mas, dessas
obras, as que foram realizadas antes de 20 de março de 1816, foram executadas
pelo Príncipe Regente de Portugal e Algarves no Brasil Colônia Portuguesa. E as
que foram realizadas após essa data, e até 26 de abril de 1821, foram
executadas pelo rei Dom João VI, no Reino Unido a Portugal e Algarves.
Ao mesmo
tempo, a situação em Portugal não estava nada tranquila; acéfalo e devastado
pela Guerra Peninsular, que causou fome em massa e
um enorme êxodo populacional, se tornando, na prática, com o afastamento
definitivo da ameaça francesa, um protetorado britânico, comandado pelo
marechal William Beresford, que governou com mão de ferro.
Desde a consagração de D.
João VI ao trono do Reino
Unido a Portugal e Algarves, em 6 de
fevereiro em 1818, (embora ele já tivesse a sua frente desde 20 de março de
1816), os portugueses faziam pressão para o seu retorno, através de rebeliões.
A 30 de janeiro
de 1821 as Cortes se reuniram em Lisboa e decretaram a formação de um Conselho
de Regência para exercer o poder em nome de D. João VI. Libertaram muitos
presos políticos e exigiram o regresso imediato do rei. Em 20 de abril de 1821,
D. João VI convocou, no Rio de Janeiro, uma reunião para escolher deputados à
Constituinte, mas no dia seguinte, houve protestos em praça pública que
acabaram reprimidos com violência. No Brasil a opinião geral era de que a volta
do rei poderia significar a retirada do país da autonomia conquistada, voltando
a ser uma colônia. Pressionado, D. João VI tentou encontrar
uma saída contemporizadora enviando para Lisboa seu filho, o príncipe herdeiro
D. Pedro de Alcântara, para outorgar uma Constituição e estabelecer as bases de
um novo governo. O príncipe, contudo, já envolvido com ideias libertadoras, se
recusou a ir. A crise havia ido longe demais e não havia como voltar atrás. Só
restou ao rei nomear D. Pedro de Alcântara, (na época, detentor do título de
Príncipe Real do Reino Unido do Brasil a Portugal e Algarves), regente em seu
nome, e partiu, juntamente com toda família real, (exceto o Príncipe Real, D. Pedro
de Alcântara), para Lisboa, em 26 de abril de 1821, após uma permanência de
treze anos no Brasil.
No dia 7 de
setembro de 1822, D. Pedro de Alcântara proclamou a independência do Brasil a
Portugal e, nesse momento, o Reino Unido do Brasil a Portugal e Algarves foi
extinto, ficando em seu lugar o Império do Brasil, (denominado
também pela historiografia com, Brasil
Império, Brasil Imperial ou Brasil
Monárquico), intitulado pelo Príncipe Real Dom
Pedro de Alcântara, que também se auto intitulou Dom Pedro I, Imperador
do Brasil.