Nasceu em São Borja, Rio Grande do Sul, em 19 de abril de 1882 e
faleceu Rio de Janeiro, em 24 de agosto de 1954. Foi
um advogado e político brasileiro, líder civil da Revolução
de 1930, que pôs fim à República Velha, depondo seu 13.º e último
presidente, Washington Luís, e, impedindo a posse do presidente eleito em
1 de março de 1930, Júlio Prestes.
Foi presidente do Brasil em dois períodos. O primeiro
período foi de 15 anos ininterruptos, de 1930 até 1945, e dividiu-se em 3
fases: de 1930 a 1934, como chefe do "Governo Provisório"; de 1934
até 1937 como presidente da república do Governo Constitucional, tendo
sido eleito presidente da república pela Assembleia Nacional Constituinte de
1934; e, de 1937 a 1945, como ditador, durante o Estado Novo, implantado
após um golpe de estado.
No segundo período, em que foi eleito por voto direto,
Getúlio governou o Brasil como presidente da república, por 3 anos e meio: de
31 de janeiro de 1951 até 24 de agosto de 1954, quando se suicidou. Getúlio era
chamado por seus simpatizantes de "pai dos pobres", pela legislação
trabalhista e políticas sociais adotadas sob seus governos. A sua doutrina e
seu estilo político foram denominados de "getulismo" ou
"varguismo". Os seus seguidores, até hoje existentes, são denominados
"getulistas". As pessoas próximas o tratavam por "Doutor
Getúlio", e as pessoas do povo se referiam a ele como "Getúlio".
Cometeu suicídio no ano de 1954, com um tiro no coração, em
seu quarto, no Palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro, então
capital federal. Sua influência se estende até hoje. A sua herança política é
invocada por pelo menos dois partidos políticos atuais: o Partido
Democrático Trabalhista (PDT) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Getúlio Vargas foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, em 15 de
setembro de 2010, pela lei nº 12.326.
Origem
É filho de Manuel do Nascimento Vargas e de Cândida Francisca
Dornelles Vargas. Na juventude, alterou alguns documentos, para fazer constar o
ano de nascimento como 1883. Este fato somente foi descoberto nas comemorações
do centenário de nascimento, quando, verificando-se os livros de registros
de batismos da Paróquia de São Francisco de Borja,
descobriu-se que Getúlio nasceu em 1882, constando no seu assento de
batismo. A Revista do Globo, que fez uma série de entrevistas
com Getúlio, em 1950, antes da campanha eleitoral, contou que Getúlio corrigiu
os repórteres dizendo que nasceu em 1883.
Getúlio Vargas provém de uma família de estancieiros da zona
rural da fronteira com a Argentina. Os Vargas são originários do
Arquipélago dos Açores. Uma genealogia detalhada de Getúlio Vargas
foi escrita pelo genealogista Aurélio Porto, Getúlio Vargas à luz da
Genealogia, publicada pelo Instituto Genealógico Brasileiro em 1943.
Pelo lado paterno, seu pai é também descendente de
famílias paulistas: era descendente, por exemplo, de Amador Bueno,
personagem de destaque na história de São Paulo e, patriarca de
muitas famílias não apenas de São Paulo, mas também de Minas Gerais, Goiás e
do Sul do Brasil. Uma vez na presidência, vários pesquisadores
quiseram encontrar alguma origem nobre na sua árvore genealógica,
mas Getúlio Vargas demonstrou falta de interesse no assunto. Na ocasião, Vargas
disse: "Nesta matéria de genealogia é melhor não aprofundar muito, porque
às vezes pode-se ter a surpresa de acabar no mato (índios) ou na cozinha
(negros)".
Getúlio manteve-se sempre ligado à principal atividade econômica
dos pampas, a pecuária, e, assim, iniciou seu discurso, em Uberaba,
durante a campanha presidencial de 1950: "quero que saibam que lhes vou
dizer as coisas na linguagem simples de companheiro! Nossa conversa será no
jeito e estilo daqueles que os fazendeiros costumam fazer de pé, junto à
porteira do curral". Getúlio possuía, em 1950, três estâncias: Itu e
Espinilho, em Itaqui, e a estância Santos Reis, em São Borja.
O líder político gaúcho Pinheiro Machado foi um dos
primeiros a perceber que Getúlio tinha aptidão para a política. Estudou em sua
terra natal, depois em Ouro Preto, em Minas Gerais. Quando Getúlio
estudou em Ouro Preto, ele e seus irmãos se envolveram numa briga que terminou
com a morte do estudante paulistano Carlos de Almeida Prado Júnior em 7 de
junho de 1897. O acontecimento precipitou a volta de Getúlio e de seus
irmãos para o Rio Grande do Sul. Voltando ao Rio Grande do Sul,
inicialmente tentou a carreira militar, tornando-se, em 1898, soldado na
guarnição de seu município natal. Soldado, com apenas 16 anos, já que nascera
em 1882, constatou a citada "Revista do Globo", em 1950.
Em 1900, matriculou-se na Escola Preparatória e de Tática
de Rio Pardo, onde não permaneceu por muito tempo, sendo transferido
para Porto Alegre, a fim de terminar o serviço militar, onde conheceu
os cadetes da Escola Militar de Porto Alegre Eurico Gaspar
Dutra e Pedro Aurélio de Góis Monteiro. Com a patente de sargento,
Getúlio participou da Coluna Expedicionária do Sul, que se deslocou para Corumbá,
em 1902, durante a disputa entre a Bolívia e o Brasil pela posse
do Acre.
Sua passagem pelo exército e a origem militar, (o seu
pai lutou na guerra do Paraguai), seriam decisivos na formação de sua
compreensão dos problemas das forças armadas, e no seu empenho em
modernizá-las, reequipá-las, mantê-las disciplinadas e afastá-las da política,
quando chegou à presidência da república.
Matriculou-se, em 1904, na Faculdade Livre de Direito de
Porto Alegre, atual da UFRGS. Bacharelou-se em direito em 1907.
Trabalhou inicialmente como promotor público junto ao fórum de
Porto Alegre, mas decidiu retornar à sua cidade natal para exercer a advocacia.
A orientação filosófica, como muitos de seu estado e de sua época, era o positivismo e
o castilhismo, a doutrina e o estilo político de Júlio
Prates de Castilhos.
Coube a Getúlio, que se destacara como orador, fazer o discurso,
em 1903, nos funerais de Júlio de Castilhos. Na Juventude Castilhista fez
amizade com vários jovens da elite do estado, que se destacariam na
revolução de 1930, entre eles João Neves da Fontoura e Maurício
Cardoso.
Perfil
Como castilhista, Getúlio vê a vida pública como missão, e assim
sintetizou o seu governo em 1950: "A missão social e política de meu
governo não foi ideada pelo arbítrio de um homem, nem por interesses de um
grupo; foi-me imposta, a mim e aos que comigo colaboram, pelos interesses da
vida nacional, e pelos próprios anseios da consciência coletiva".
Sobre a maneira de ver o serviço público, Luís Vergara,
secretário particular de Getúlio de 1928 a 1945, conta, no livro Eu fui
secretário de Getúlio, de 1960, reeditado, em 2000, pela AG Editora, sob o
título Getúlio Vargas, Passo a Passo, 1928-1945: "Em 1951, quando
ele voltou ao governo, vi os serviços da Presidência providos por uma legião de
funcionários, me disseram atingir a número superior a duzentos. Ora, o
Presidente não gostava de ver no Palácio muita gente. Quando se tornava
indispensável trazer mais algum (no período de 1930 a 1945), ele objetava:
'Para que mais funcionários, nós já temos tantos!'"
E sobre o dinheiro público, Luís Vergara conta, a respeito de
uma pequena sobra de dinheiro, no final de um exercício financeiro, que
"nenhuma despesa era feita sem a sua aprovação e autorização", tendo
Getúlio dito: "esse dinheirinho não é meu, nem teu. É do Tesouro. Manda
recolher".
Ainda sobre a personalidade de Getúlio, Luís Vergara, relatou
também um depoimento do escritor Menotti Del Picchia:
O escritor
Menotti Del Picchia depois de uma ligeira conversa (com Getúlio) veio
dizer-me que a sua impressão pessoal nesse primeiro contato era de quase
perplexidade. Não pudera formar um juízo definitivo sobre o homem, mas
sentira que (Getúlio) lhe havia "tirado o retrato": “- Senhor
Vergara, para conhecer Getúlio, precisarei vê-lo muitas e muitas vezes. O que
mais me impressionou foi o seu olhar. Aparentemente abstrato, parecia estar
vendo tudo perto e longe. Possuía o olhar periférico da mosca e mais uma
supervisão das distâncias”.
—Luís Vergara.
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E um exemplo dessa avaliação detalhada e rápida que Getúlio
fazia dos homens é a descrição que fez do Cardeal Eugênio Pacelli (futuro
Papa Pio XII) em visita ao Rio de Janeiro, anotada no Diário em
21 de outubro de 1934: "Alto, esguio, ágil, inteligente, culto e discreto,
tem uma figura de asceta moderno, muito diferente do tipo bonacheirão da
maioria de seus colegas".
Já Josino Moraes traz uma visão bastante negativa do governante,
ressaltando suas inseguranças, perfil ditatorial e traços violentos de sua
família.
Vida
Pessoal
Getúlio teve quatro irmãos: Espártaco, Viriato,
Protásio e Benjamim (O Bejo).
Casou-se, em São Borja, na casa de residência do Tenente Antônio
Sarmanho, em 4 de março de 1911, com Darcy Lima Sarmanho, de quinze
anos de idade, com quem teve cinco filhos: Lutero Vargas, Getulinho, que
morreu cedo, Alzira Vargas, Jandira e Manuel Sarmanho Vargas, o
"Maneco" que, em 1997, cometeu suicídio da mesma forma do pai.
Este casamento foi um ato de conciliação, pois as famílias dos
noivos eram apoiadoras de partidos políticos rivais na Revolução
Federalista de 1893. A família de Darcy Sarmanho era maragato (do Partido
Federalista do Rio Grande do Sul) e a de Getúlio ximango (do Partido
Republicano Rio-grandense). Sobre maragato não se casar com ximango, Glauco
Carneiro, em Lusardo, o Último Caudilho, conta que: "Thadeo
Onar, em entrevista ao autor, explica que a elite política do Rio Grande vem
sendo dividida desde os primórdios... da República: 'É a tradição política... O
pai era libertador, o filho também. As famílias não deixavam casar com quem
fosse republicano. Era a tradição, era uma espécie de aristocracia, pois um
aristocrata não vai se casar com um plebeu'."
Em relação a quem seria a muito comentada amante secreta de
Getúlio na década de 1930, Juracy Magalhães, no livro-entrevista
autobiográfico Juraci, o último tenente, da Editora Record, 1996,
na página 144, dá indicação segura de se tratar de Aimée Sotto Maior, que
depois seria "a Senhora De Heeren de fama
internacional", dizendo que Simões Lopes lhe dissera que
"a bela Aimée fizera boas referências ao meu nome junto ao presidente,
mostrando sua gratidão pela maneira que a recebera em Palácio numa
hora difícil".
Religião
Getúlio Vargas declarava-se agnóstico e fora
influenciado em sua formação pelo positivismo, do qual Júlio de Castilho,
seu mentor na política gaúcha, e seu irmão Protásio Vargas eram adeptos.
Em 1907, quando foi orador de turma na Faculdade Livre de
Direito de Porto Alegre, Vargas afirmou que "a moral cristã é contrária à
natureza humana". Mas o discurso de Vargas foi mudando ao longo do
tempo, uma vez que ele viu na Igreja Católica uma forte aliada para
dar o golpe de 1930, que o alçou à presidência da República. A
ascensão de Getúlio à presidência, em 1930, representa tanto sua ruptura com as
diretrizes positivistas, ideologia que influenciou o Brasil durante a República
Velha, quanto a volta da influência do catolicismo no Estado laico.
Por volta de 1930, o segundo cardeal do Brasil, Sebastião
Leme, pressionou Getúlio Vargas a reinserir o catolicismo na esfera pública
brasileira, como evidencia a carta do cardeal a Getúlio: "ou o Estado
[...] reconhece o deus do povo ou o povo não reconhecerá o
Estado". Tal atitude levou Getúlio a decretar a introdução do ensino
religioso na educação pública no Brasil.
Carreira
Política
Em 1909, elegeu-se deputado estadual pelo Partido
Republicano Riograndense, o PRR, sendo reeleito em 1913. Renunciou ao 2º
mandato de deputado estadual, pouco tempo depois de empossado, em protesto às
atitudes tomadas pelo então presidente (cargo hoje intitulado governador)
do Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros, o "velho Borges", nas
eleições de Cachoeira do Sul.
Retornou à Assembleia Legislativa estadual, chamada,
na época, Assembleia dos Representantes, em 1917, sendo novamente reeleito em
1919 e 1921. Na legislatura de 1922 a 1924, Getúlio foi líder do PRR na
Assembleia dos Representantes, e, segundo o suplemento especial da Revista
do Globo de agosto de 1950, na condição de líder da maioria, Getúlio
se mostrou conciliador e dirimiu conflitos do PRR com a minoria do Partido
Federalista do Rio Grande do Sul, o qual, em 1928, tornou-se o Partido
Libertador.
Em 1940, em uma conferência sobre a política externa do Brasil
sob o governo de Getúlio, o ministro José Roberto de Macedo Soares relata que a
atuação de Getúlio como deputado estadual foi fundamental para a concretização
do Tratado Brasil-Uruguai, definindo as fronteiras entre os dois países. Macedo
Soares lê o telegrama de agradecimento do Barão do Rio Branco a
Getúlio e outros deputados gaúchos e diz:
Certo é
que o deputado estadual, sr. Getúlio Vargas, prestou valioso apoio ao Barão
do Rio Branco quando pronunciou o discurso de 9 de outubro de 1909 em prol do
Tratado Brasil-Uruguai, para modificar suas fronteiras, e do qual resultou a
concessão feita, espontaneamente por nosso país, à República Oriental, do
condomínio da Lagoa Mirim e do Rio Jaguarão, estabelecendo princípios gerais
para o comércio e navegação nestas paragens.
—José Roberto de Macedo Soares.
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Quando se preparava para combater a favor do governo do Estado
do Rio Grande do Sul na revolução de 1923, no interior do estado, foi
chamado para concorrer a uma cadeira de deputado federal, pelo Partido
Republicano Riograndense (PRR), na vaga aberta pelo falecimento do
deputado federal gaúcho Rafael Cabeda. Eleito, tornou-se líder da bancada
gaúcha na Câmara dos Deputados, no Rio de Janeiro. Completou o
mandato de Rafael Cabeda em 1923, e foi eleito deputado federal na legislatura
de 1924 a 1926, sendo líder da bancada gaúcha na Câmara dos Deputados neste
período. Em 1924, apoiou o envio de tropas gaúchas ao Estado de São Paulo, em
apoio ao governo de Artur Bernardes contra a Revolta Paulista de
1924, e, em um discurso na Câmara dos Deputados, criticou os revoltosos,
alegando que: "Já passou a época dos motins de quartéis e das empreitadas
caudilhescas, venham de onde vierem!" Porém, coube a Getúlio, em
1930, conceder anistia a todos os envolvidos em movimentos
revolucionários da década de 1920.
Assumiu o ministério da Fazenda em 15 de novembro de
1926, permanecendo ministro da fazenda até 17 de dezembro de 1927, durante o
governo de Washington Luís, implantando neste período a reforma monetária
e cambial do presidente da república, através do “decreto nº 5.108”, de 18
de dezembro de 1926. Washington Luís escolhera líderes de bancadas estaduais
para serem seus ministros.
Em dezembro de 1926, foi criado o Instituto de Previdência dos
Funcionários Públicos da União. Deixou o cargo de ministro da fazenda, em 17 de
dezembro de 1927, para candidatar-se às eleições para presidente do Rio Grande
do Sul, sendo eleito, em dezembro de 1927, para o mandato de 25 de janeiro de
1928 a 25 de janeiro de 1933, tendo como seu vice-presidente João Neves da
Fontoura.
Quando Getúlio deixou o ministério, o presidente Washington Luís
proferiu um longo discurso, elogiando a competência e dedicação ao trabalho de
Getúlio Vargas, no qual dizia: "A honestidade de vossos propósitos, a
probidade de vossa conduta, a retidão de vossos desígnios, fazem esperar que,
de vossa parte e de vosso governo, o Rio Grande do Sul continuará a prosperar,
moral, intelectual e materialmente".
Sua eleição para presidente do Rio Grande do Sul encerrou os
longos trinta anos de governo de Borges de Medeiros no Rio Grande do
Sul. Tendo assumido o governo gaúcho em 25 de janeiro de 1928, exercendo,
porém, o mandato somente até 9 de outubro de 1930. Glauco Carneiro, no
livro Lusardo, o Último Caudilho, avalia assim o fim da "Era
Borges de Medeiros" e a vitória de Getúlio, como candidato da conciliação
entre PRR e Partido Libertador: "Elegia-se, Getúlio Vargas, como candidato
da 'conciliação', presidente do Rio Grande do Sul. Em 25 de janeiro de 1928, ao
completar trinta anos de domínio do sistema governamental gaúcho, Borges de
Medeiros passava o cargo e encerrava sua carreira de ditador da política
republicana". E neste livro Lusardo, o Último Caudilho,
volume I, João Batista Luzardo assim descreve o governo de Getúlio no
Rio Grande do Sul:
“Quando assumiu
a presidência do Estado (Getúlio) botou todo o pessoal da administração, da
polícia, tudo para fora, porque – só para dar um exemplo – polícia aqui só dava
bandido. Os capangas do Flores (da Cunha), os mais inocentes, tinham duas
mortes nas costas. ... Bem, o finado Getúlio botou todos para fora, e empregou
gente, sem se importar se era blanco (PRR) ou colorado
(Partido Libertador), desde que fosse competente. Foi aí que o povo obteve mais
liberdade sem distinção de partido. Aí os coronéis blancos desapareceram
quem não foi preso morreu de desgosto, e o banditismo que reinava foi
desaparecendo, mas a situação foi se apaziguar mesmo em 1930, quando os dois
partidos de juntaram para marchar contra o governo federal”.
—Batista Luzardo.
Ações
Políticas
O seu governo no Rio Grande do Sul foi elogiado por Assis
Chateaubriand, o principal jornalista da época, da revista O Cruzeiro,
que afirmou que seu governo era um governo de estadista, despertando a atenção
do país. Quando presidente do estado, continuou a se destacar como conciliador,
conseguindo unir os partidos políticos do Rio Grande do Sul, o PRR e o Partido
Libertador, antes fortemente divididos. Getúlio foi candidato único a
presidente do Rio Grande do Sul, tendo sido apoiado pelo PRR e pelo Partido
Libertador.
Durante este mandato, quando se candidatou à presidência da
República, Getúlio iniciou um forte movimento de oposição ao governo federal,
exigindo o fim da corrupção eleitoral, a adoção do voto secreto e
do voto feminino. Getúlio, porém, manteve bom relacionamento com o
presidente Washington Luís, obtendo verbas federais para o Rio Grande do Sul e
a autorização para melhoramentos no porto de Pelotas. Criou
o Banco do Estado do Rio Grande do Sul e apoiou a criação da VARIG (Viação
Aérea Riograndense). Respeitou também a vitória da oposição gaúcha, o Partido
Libertador, em vários municípios do estado.
O seu governo no Rio Grande do Sul foi elogiado por Assis
Chateaubriand, o principal jornalista da época, da revista O Cruzeiro,
que afirmou que seu governo era um governo de estadista, despertando a atenção
do país. Quando presidente do estado, continuou a se destacar como conciliador,
conseguindo unir os partidos políticos do Rio Grande do Sul, o PRR e o Partido
Libertador, antes fortemente divididos. Getúlio foi candidato único a
presidente do Rio Grande do Sul, tendo sido apoiado pelo PRR e pelo Partido
Libertador.
Após tomar o poder através de um golpe militar e instaurar
uma ditadura, Getúlio Vargas usufruía de poderes quase ilimitados e,
aproveitando-se deles, começou a tomar políticas de modernização do país. Ele
criou, por exemplo, novos ministérios - como o Ministério do Trabalho,
Indústria e Comércio e o Ministério da Educação e Saúde -, e nomeou
interventores federais. Na prática, os estados perdiam grande parte da sua
autonomia política para o presidente.
Continuou com a Política de Valorização do Café (PVC) e criou o
Conselho Nacional do Café e o Instituto do Cacau atendendo assim a algumas das
reivindicações das oligarquias cafeeiras.
Getúlio Vargas também é creditado, nesta época, a Lei da
Sindicalização, que vinculava os sindicatos brasileiros indiretamente - por
meio da câmara dos deputados - ao Presidente. Vargas pretendia, assim,
tentar ganhar o apoio popular, para que estes apoiassem suas decisões (a
política conhecida como populismo). Assim sendo, houve, na Era Vargas, grandes
avanços na legislação trabalhista brasileira, muitos deles não devidos
exatamente a Vargas - cujo crédito maior é o estabelecimento da CLT, em
1941 - mas sim por parte de parlamentares constituintes do período. Mudanças
essas que perduram até hoje.
Em 1931, Getúlio Vargas derruba a Constituição brasileira, reunindo
enormes poderes no Brasil. Isso despertou a indignação dos opositores,
principalmente as oligarquias cafeeiras e a classe média paulista, que estavam
desgostosos com o governo getulista. A perda de autonomia estadual, com a
nomeação de interventores, desagradou ainda mais. Por mais que Getúlio tenha
percebido o erro e tentado nomear um interventor oligarca paulista, estes já
arquitetavam uma revolta armada, a fim de defender a criação de uma nova
Constituição.
Quando quatro jovens estudantes paulistanos (Martins, Miragaia,
Dráuzio e Camargo) são assassinados no dia 23 de maio de 1932, diversos setores
da sociedade paulista se mobilizam com o evento, e toda a sociedade passa a
apoiar a causa constitucional. No dia 9 de julho do mesmo ano, a revolução explode
pelo estado. Os paulistas contavam com apoio de tropas de diversos estados,
como Rio de Janeiro, Minas e Rio Grande do Sul, mas Getúlio Vargas foi mais
rápido e conseguiu reter esta aliança, isolando São Paulo. Sem qualquer apoio,
os flancos paulistas ficaram vulneráveis, e o plano de rápida conquista do Rio
de Janeiro transformou-se em uma tentativa desesperada de defender o território
estadual. Sem saída, o estado se rende em 28 de setembro.
Mesmo com a vitória militar, Getúlio Vargas atende alguns pedidos
dos republicanos e aprova a Constituição de 1934. O estado de São Paulo
não conseguiu a adesão de praticamente nenhum outro estado brasileiro. Os
paulistas, chefiados por Isidoro Dias Lopes, permaneceram isolados, sem adesão
das demais unidades da federação, excetuando um pequeno contingente militar
vindo do Mato Grosso, sob o comando do general Bertoldo Klinger.
Claramente porque era uma revolução encabeçada basicamente pela elite do Partido
Republicano Paulista (PRP) que, por meios de propagandas eficientes,
conseguiu galgar apoio de diversos setores da sociedade paulista - taxando
Getúlio Vargas como um cruel ditador fascista.
Para reprimir a rebelião paulista, Getúlio Vargas enfrentou
sérias dificuldades no setor militar, pois inúmeros generais simplesmente
recusaram a missão, tendo em vista que estes temiam a ameaça de perder os
cargos. Percebendo o débil apoio que tinha no seio da cúpula do Exército, e a
fim de conquistá-lo, Vargas rompeu em definitivo com os tenentes, que não eram
bem vistos pelos oficiais legalistas. Em 3 de outubro de 1932, em meio à crise
militar e apesar dela, Getúlio conseguiu conter a revolta paulista.
A 18 de Novembro de 1933 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem
Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito de Portugal. Ainda
no mesmo ano, ele fez a auditoria da dívida externa brasileira, que foi mais
tarde acordada em 1943 com os credores uma redução dela em 60%.
Convoca a Assembleia em 1933 e em 16 de julho de 1934,
promulga a nova Constituição, trazendo novidades como o voto secreto, o ensino
primário obrigatório, o voto feminino e diversas leis trabalhistas. O voto
secreto significou o fim do voto aberto preponderante na República Velha,
quando os coronéis tinham a oportunidade de controlar os votos. A nova
constituição estabeleceu também que, após sua promulgação, o primeiro
presidente seria eleito de forma indireta pelos membros da Assembleia
Constituinte. Getúlio Vargas saiu vitorioso.
Nessa mesma época, duas vertentes políticas começaram a
influenciar a sociedade brasileira. De um lado, a direita fundava a Ação
Integralista Brasileira (AIB), defensores de um Estado corporativista,
inspirado no fascismo. Do outro, crescia a força de esquerda da Aliança
Nacional Libertadora (ANL), patrocinada pelo regime comunista da União
Soviética.
Estes partidos possuíam caráter nacional, diferentemente dos
partidos dominantes durante a República Velha, que geralmente representavam o
seu estado (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro...). Essa tendência
persiste até hoje.
Integralismo: Corrente que defendia a direita no Brasil,
liderada por Plínio Salgado.
Aliancismo: Corrente que defendia a esquerda no Brasil através
da Intentona Comunista, liderada por Luiz Carlos Prestes e Olga
Prestes. Eles achavam Getúlio Vargas um problema.
Getúlio Vargas e o alto comando das Forças
Armadas sempre se mostraram contra o comunismo, e usaram este pretexto para o
seu maior sucesso político - o golpe de 1937. O PCB, que surgiu em 1922, havia criado a Aliança
Nacional Libertadora, mas Getúlio Vargas a declarou ilegal, e a fechou. Assim,
em 1935, a ANL (com o apoio da
Internacional Comunista Comintern) montou a Intentona Comunista, uma revolta contra Getúlio Vargas, mas que este
facilmente conteve. Em 1937, os integralistas forjaram o "Plano
Cohen", em que se dizia que os comunistas
planejavam uma revolução maior e mais bem-arquitetada do que a de 1935, e teria
o amplo apoio do Partido Comunista da União Soviética. Os militares e boa parte
da classe média brasileira, assim, apoiam a ideia de um governo mais
fortalecido, para espantar a ideia da imposição de um governo comunista no
Brasil. Com o apoio militar e popular, Getúlio Vargas derruba a Constituição
de 1934 e declara o Estado Novo.
A constituição de 1937, que criou o "Estado Novo"
getulista, tinha caráter centralizador e autoritário. Ela suprimiu a liberdade
partidária, a independência entre os três poderes e o próprio federalismo
existente no país. Vargas fechou o Congresso Nacional e criou o Tribunal de
Segurança Nacional. Os prefeitos passaram a ser nomeados pelos governadores e
esses, por sua vez, pelo presidente. Foi criado o DIP (Departamento
de Imprensa e Propaganda), com o intuito de projetar Getúlio Vargas como o
"Pai dos Pobres" e o "Salvador da Pátria". O governo
iniciou uma expansão econômica para os territórios indígenas guarani-Kaiowás,
os confinando em reservas indígenas.
A 6 de Agosto de 1941 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem
Militar de Avis de Portugal.
Durante a Segunda Guerra Mundial, ao longo do ano de 1942,
as marinhas da Alemanha Nazista e Itália Fascista estenderam
a guerra submarina às águas do Atlântico Sul, atacando os navios de bandeiras
de todos os países que haviam ratificado o compromisso da Carta do
Atlântico, compromisso esse que era de se alinhar automaticamente com qualquer
país do continente americano que viesse a ser atacado por um país de fora do
continente. Isto implicou o alinhamento com os Estados Unidos, desde que
estes foram atacados pelos japoneses em Pearl Harbor. Dias depois tiveram
declarações de guerra enviada a eles pela Alemanha e Itália.
Durante todo o primeiro semestre vários navios mercantes
brasileiros foram afundados no Atlântico, supostamente por submarinos alemães,
não apenas no Atlântico Sul. Contudo a situação econômica já depauperada da
Alemanha e a indiferença que o Brasil tinha neste contexto, faz crer que esta
tenha sido uma ação orquestrada por outros interesses. Devido ao alarde dos
casos pela imprensa, a população brasileira saiu às ruas para exigir que o
governo, frente à agressão, reagisse com a declaração de guerra.
Os Estados Unidos tinham planos para invadir o nordeste,
caso o governo Vargas insistisse em manter o Brasil neutro. Mesmo com a
atitude passiva do ponto de vista diplomático, com o governo brasileiro ainda
se mantendo oficialmente na neutralidade, o estado de guerra se mostrou
irreversível quando, a partir de maio daquele ano, aviões da FAB passaram
a atacar qualquer submarino alemão e italiano que fosse avistado.
Apenas entre os dias 15 e 21 de agosto de 1942, cinco navios
brasileiros - Baependi, Aníbal Benévolo, Araraquara, Itagipe e Arará foram
torpedeados na costa nordestina (Sergipe e Bahia), sendo que um deles estaria
vazio e sem tripulação. No final daquele mês, o Brasil se uniu formalmente
aos aliados, declarando guerra à Alemanha e Itália.
Neste período, Vargas também assinou o Tratado de
Washington com o presidente norte-americano Roosevelt,
garantindo a produção de 45 mil toneladas de látex para as forças
aliadas, o que impulsionou o segundo ciclo da borracha, trazendo progresso
para a região da Amazônia e também colonização, uma vez que só
do nordeste do Brasil foram para a Amazônia 54 mil trabalhadores, a
maioria do Ceará. Em meio a incentivos econômicos e pressão diplomática,
os americanos instalaram bases aeronavais ao longo da costa norte-nordeste
brasileira, sendo a base militar no município de Parnamirim, vizinho à
capital Natal, no estado do Rio Grande do Norte, a principal dentre
estas do ponto de vista militar, embora Recife tenha sido escolhida
como sede do comando aliado no Atlântico Sul.
A participação do Brasil na guerra e a forma como a mesma se
desenrolou, com o envio de uma força expedicionária ao teatro de operações
do Mediterrâneo, acabou por ter um peso significativo para o fim do regime
do Estado Novo.
Declínio
e Fim da Era Vargas
O Manifesto dos Mineiros foi um documento de 1943 que marcou o
início da oposição aberta ao Estado Novo, criticando abertamente o regime
ditatorial daquele período. Assinado por 76 políticos, intelectuais e
empresários de Minas Gerais, exigia a redemocratização e era passado,
clandestinamente, de mão em mão.
No dia 29 de outubro de 1945, Getúlio Vargas, como o próprio
ressalta em sua carta-testamento, renunciou ante a iminência de ser
deposto por um golpe militar, sendo conduzido ao exílio na sua cidade
natal, São Borja. No dia 2 de dezembro do mesmo ano, foram realizadas
eleições livres para o parlamento e presidência, nas quais Getúlio seria eleito
senador pela maior votação da época. Era
o fim da Era Vargas, mas não o fim de Getúlio
Vargas, que em 1951 retornaria à presidência pelo voto popular.
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