segunda-feira, 4 de abril de 2011

O JUMENTO DE ADELÁIDE

Adelaide Novais era a proprietária de mais de 50% dos terrenos residenciais dos bairros de Cruz das Armas, Rangel, Novais e Oitizeiro, porque esses bairros se formaram a partir de aglomerados residenciais de moradores da fazenda herdada por ela, formada por  uma grande extensão de terras dantes destinadas ao plantio agrícola e a criação bovina mas que Dona Adelaide resolveu urbanizar, dividindo-a em arruamentos e lotes residenciais e transformados em arrendamentos enfitêuticos, ou seja, arrendamentos feitos através de um ato jurídico, inter vivos por prazo longo ou perpétuo de terras públicas ou particulares, mediante a obrigação, por parte do adquirente, (arrendatário ou enfiteuta), de mante-las em bom estado e efetuar, por ano, um pagamento denominado foro anual, certo e invariável, de direito real, alienável e transmissível a herdeiros o direto do uso e a obrigação do pagamento do foro anual, como também o direito dos herdeiros do arrendador de receber do arrendatário ou herdeiros o foro anual, (o qual corresponde a 2,5% do valor venal do terreno).

Ainda hoje, embora muitos terrenos tenham sido quitados a herdeiros de Adelaide,  existem muitos terrenos de casas em Cruz das Armas, principalmente aquelas mais humildes, que pertencem aos herdeiros de Dona Adelaide, talvez, não podemos afirmar, com grande inadimplencia do foro anual.

A fazenda de Adelaide, após o arrendamento, se resumiu apenas as terras circunvizinhas a chamada casa grande da fazenda e confinadas entre a Rua do Rio, (para onde fica a frente da casa), até as margens do rio Jaguagraribe. Nessa área já não havia mais na época muito plantio agrícola, mas ainda havia as criações bovina, caprina, equina e avícula.

Dentre a criação equina de Dona Adelaide, havia um jumento, que, no sentido dicionarizado, é um animal mamífero perissodáctilo, (ordem de animais mamíferos, geralmente de grande porte que têm membros alongados, dedos em número ímpar, cada um revestido de um casco córneo, e estômago simples, que são os cavalos, as antas, os jumentos, os rinocerontes, etc), facilmente domesticável, muito difundido no mundo, e utilizado desde tempos imemoriais como animal de tração e carga. É ungulado e tem pêlo duro, de coloração extremamente variada, indo do castanho-fulvo ao cinza-escuro.

Todas essas características o jumento de Dona Adelaide tinha, como todo jumento tem. Mas esse jumento tinha uma característica a mais, nunca dantes registrada em nenhum de seus pares, que era ter atração sexual por mulheres. Ele não se interessava sexualmente pelo gênero feminino de sua espécie e somente sim, pelo gênero feminino da espécie humana. E isso se tornou um drama na vida do pobre animal que era diuturnamente mantido amarrado a corda num canto isolado da fazenda, e um trauma na vida das mulheres porque, quando ele conseguia romper a corda que o prendia, passava a correr atrás das mesmas, causando a maior gritaria, até que ele fosse pego e novamente amarrado.

Embora esse pobre animal jamais tenha consumado um ato sexual, (para o bem de todos e felicidade geral das mulheres), ele ficou muito conhecido em todo o bairro e vários ditos engraçados e espirituosos foram criados por causa desse seu comportamento, tendo um desses ditos ficado muito conhecido em todo o bairro de Cruz das Armas, que era dizer, em termos de brincadeira:  vai dar ao jumento de Adelaide”,
quando uma pessoa queria brincar de xingar outra.

Essa forma de brincadeira hoje, entre os mais jovens, não é mais aplicada, porém, entre os mais velhos ainda é bastante corriqueira.

Vale salientar que esse fato, em hipótese alguma, denegria a imagem de Dona Adelaide, que era uma senhora de respeito, amada e admirada por todos, pelo seu coração brando e generoso, escondido por traz de uma personalidade enérgica e austera que enquanto pegava um rifle para defender sua propriedade, seu coração perdoava as dívidas do foro anual dos mais carentes, como também doava de sua mesa farta, víveres para muitos dos moradores necessitados do bairro.

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