Às margens do rio Ipiranga soou um brado retumbante de
apelo a nossa independência, ou nossa morte, se essa independência não se realizasse.
Muitos de nós morremos, mas nos tornamos independentes, tanto de
Portugal como de outras dependências que aos poucos fomos proclamando e hoje
somos autônomos em muitas modalidades de produção. Mas, ao longo desses anos de lutas, conquistas, vitórias e superações, deixamos de lado o fator mais importante de
preservação a vida na terra que é a água. A água
potável, condição sem a qual o ser humano e muitos outros animais serão
extirpados da face terrestre.
Em 1822, o príncipe português regente do Brasil, Dom
Pedro de Alcântara bradou às margens do rio Ipiranga o grito de ”independência ou
morte”, tornando, de fato, após sangrentas batalhas, o Brasil separado do reino unido ao de
Portugal, se tornado, pelo grito, uma nação livre e independente e, por aclamação do povo, um Império, cujo príncipe, também
por aclamação do povo, passaria, naquele momento, a ser, o Dom Pedro I, o primeiro
Imperador Brasileiro.
Naquela época o rio Ipiranga, como todos os rios
brasileiros, não tinham poluição em suas águas, embora as águas do rio Ipiranga, em especial, tivessem uma turbidez avermelhada, sem prejuízo de sua
potabilidade, em função do barro vermelho que compunha o seu leito, refletindo
em sua lâmina d’água essa cor
avermelhada, daí o seu nome, "rio vermelho" porque em tupi guarani o "som" "Ipiranga" tem esse significado, (som, porque a língua tupi e o seu dialeto guarani não tinham
escrita).
Esse rio que ficou na história, nascia na Serra do Mar, no município de Santos, também chamada
Colina do Ipiranga e serpenteava por oito quilômetros, em curvas tão sinuosas
quanto a sua paralela, a estrada de Lorena, entre a vegetação selvagem, as
chácaras e sítios do percurso, atendendo as necessidades hídricas das
comunidades situadas no percurso até a cidade de São Paulo.
Hoje, o histórico rio Ipiranga, é apenas um canal de esgotos encaixotado sob o asfalto e o concreto da maior metrópole
da América Latina. Deságua, após receber uma quantidade monumental de lixo,
descargas domésticas e industriais, no rio
Tamanduateí, onde a taxa de poluição é de sessenta e dois miligramas por litro
de água e a taxa de oxigênio é próxima de zero, além da redução de seu volume,
pois, das vinte e quatro nascentes originais situadas dentro do Parque das
Fontes do Ipiranga, quatro desapareceram pela redução do lençol freático em
função da impermeabilização do solo na região e esse resto de riacho é incapaz de abrigar
peixe ou outras formas de vida não nocivas ao meio ambiente.
Como o rio Ipiranga, milhares de outros rios brasileiros
gritam por socorro como:
Rio Tietê: a nascente é limpa,
porém o rio vai ficando cada vez mais poluído no decorrer do percurso até
atingir a região da cidade de São Paulo, onde se torna extremamente poluído.
Lixo, esgotos e resíduos industriais são as principais fontes poluidoras.
Rio Iguaçu: maior rio do
Paraná, possuí elevado índice de poluição. A falta de investimentos em
saneamento básico e a grande urbanização desordenada em suas margens, são os
principais responsáveis por esta triste situação.
Rio Ipojuca: importante rio de
Pernambuco, o Ipojuca recebe, em grande parte do seu curso, muito lixo e
esgoto.
Rio dos Sinos: é o rio mais
poluído do Rio Grande do Sul. Mais uma vez o crescimento urbano desordenado e
os resíduos industriais provocaram os elevados índices de poluentes nesse rio.
Rio Gravataí: esgoto doméstico,
lixo e resíduos industriais poluem esse tao importante rio que separa as cidades de Canoas e
Porto Alegre.
Rio das Velhas: a poluição é
provocada, principalmente, por resíduos industriais originados no Parque
Industrial de Belo Horizonte.
Rio Capibaribe: a poluição também é
causada por resíduos urbanos de cerca de 40 cidades
pernambucanas.
Rio Caí: localizado na área
norte de Porto Alegre, tem como principal fonte de poluição as indústrias da
região.
Rio Paraíba do Sul: rio que passa pelo
território de três estados (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) tem como
principais fontes poluidoras as atividades industrial e extrativista mineral
(principalmente de areia), além da agricultura e pecuária.
Rio Doce: importante rio de
Minas Gerais, tem a poluição gerada por resíduos químicos (provenientes de
indústrias) e pesticidas (de propriedades rurais).
(Fonte: IBGE - Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - abril de 2012).
Enquanto esses rios morrem, os mananciais
de superfície que dependem de suas contribuições secam e as populações que, por suas vezes, dependem desses mananciais para
abastecerem suas necessidades hídricas sofrem com o racionamento de suas necessidades e/ou desabastecimento como é o caso da população
da grande São Paulo, cujo abastecimento depende do açude Cantareira que hoje, (07/06/14), está com a
capacidade de sua bacia hidráulica reduzida em 75,99% e o volume restante de
24,01% esta abaixo do limite útil, ou seja, para que os padrões de portabilidade
sejam restabelecidos é preciso que os tratamentos físico, químico e bacteriológicos sejam quase que triplicados para obtenção desses padrões.
Como se sabe, a poluição
dos rios é provocada pelos lixos domésticos, e industriais que são descartados dentro desses rios, provocando seus assoreamentos e
fazendo com que as águas pluviais, de quaisquer intensidades de chuvas, sempre transbordem, provocando alagamento nas margens,
e, consequentemente, causando enchentes
e prejuízos para as comunidades que moram nas proximidades deles alem de impedir que essas vazões fluviais, majoradas pelas chuvas, contribuam para elevar o nível das represas situadas nas suas bacias hidrográficas, como é o caso do Sistema da Cantareira, que é
composto por seis barragens interligadas por um complexo sistema de túneis,
canais e uma estação de bombeamento de alta tecnologia para ultrapassar a
barreira física da Serra da Cantareira e as obras emergenciais que estão sendo efetivadas como a utilização dos Sistemas de Guarapiranga e Alto Tiete para socorrer os clientes do Cantareira e até mesmo a integração do rio Paraíba do Sul são paliativos comparando-se ao que realmente deve ser feito, a nível nacional, que é a revitalização constante e ininterrupta de todos os rios brasileiros que gritam por socorro e a reabilitação e/ou implantação de Sistemas de Esgotamentos Sanitários com estações de tratamento capazes de devolver aos rios águas servidas plenamente reaproveitáveis como acontece nas grandes potencias mundiais.
Se povo,
governo e consciência se unirem, poderemos socorrer os gritos dos rios
Ipirangas e, consequentemente, o grito das populações sedentas.
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